A figura de Pedro é um exemplo de
mudança de vida para todos nós. Na sagrada escritura, este
personagem aparece como portador de uma história de vida muito
singular, que inspirou muitos outros homens e mulheres no decorrer do
cristianismo. Para refletir sobre isso, neste breve texto, no
principio discorrerei acerca do inicio de sua vocação.
Posteriormente abordarei a temática da sua transformação a partir
da experiência com o Espírito Santo. Finalizarei refletindo, e o
que é a temática central deste texto, a relação desta história
com a nossa história, com a nova vida que Deus tem chamado nestes
últimos tempos.
Pedro era um pescador e, portanto, era um homem sem instrução mas que tinha uma grande habilidade no
mar. Segundo o evangelho de Mateus, ele estava juntamente com o seu
irmão Tiago pescando no mar da Galiléia quando viu pela primeira
vez a Jesus que, ao primeiro contato com a dupla de pescadores lança
o convite: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”
(MT 4, 18-20). Segundo o evangelista, imediatamente eles deixaram
tudo e seguiram ao homem que tinha feito tal proposta. O primeiro
questionamento que me vem a cabeça é: o que faz com esses homens
largassem tudo e seguissem a um sujeito desconhecido do modo como
eles decidiram seguir? Vemos que Jesus ainda estava começado seu
ministério público e deste modo não havia começado a percorrer a
região curando e realizando milagres. O que esses homens viram em
Jesus? O mesmo parece ter ocorrido com outro apóstolo, Levi, também
chamado de Mateus: “Ao passar, viu Levi, o filho de Alfeu sentado
na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me”! Ele se
levantou e seguiu-o” (Mc 2, 14).
Muito mais do que entender o porquê
esses homens assim fizeram, precisamos estar atentos ao fato de que
eles o fizeram, e não foi sem nenhum motivo pois não tinham pouca
coisa a perder. Levi era um cobrador de impostos e, portanto estava
enredado na trama de poder e dominação da sociedade da época, pois
estava serviço do governo romano. Então ele não podia simplesmente
largar tudo sem sofrer algum tipo de censura ou retaliação, sem
contar o dinheiro que iria perder. Pedro era um trabalhador, casado e
há muita chance de que ela fosse o provedor de sua família. É
difícil pensar que o abandono de seu trabalho não causasse prejuízos não
só para ele bem como para sua família. Mas ele largou tudo e foi
com Jesus.
Já nas primeiras conversas com o seu
novo mestre, foi se evidenciando qual seria o lugar de Pedro no grupo
que estava se constituindo. Seria o chefe, e esta escolha foi do
próprio Jesus: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a
minha igreja”. No entanto, demorou muito para que ele entendesse o
que realmente era ser discípulo de Jesus. Na verdade Pedro era um
dos apóstolos mais problemáticos. Dois episódios podem nos ajudar
e entender este aspecto. O primeiro é aquele em que Jesus aparece
aos seus apóstolos andando sobre as águas. Pedro demonstrando
firmeza e confiança pede para que, se fosse mesmo
Jesus, que lhe permitisse ir até ele andando sobre as águas. Ah,
quanta coragem! Mas na verdade era mais um impulso do que uma plena
convicção no poder de Cristo. Logo após dar alguns passos, Pedro
sente medo e afunda. A fala Jesus revela o que aconteceu: “Homem de
pouca fé”. Pedro era pescador, vivia no mar, e mesmo assim sentiu
medo diante das águas. O medo de Pedro não era em estar afundando,
mas em não conseguir andar sobre as águas dos seus medos
interiores. Ele era impulsivo queria resolver as coisas no mesmo
instante e achava que tinha forças o suficientes para tanto. Qual
foi o seu engano!
Outro episódio que nos mostra este
lado do nosso personagem é aquele em que Jesus anuncia a sua
verdadeira missão: Sofrer e morrer pelos pecados dos homens. Ele
comunica aos seus amigos (pois é assim que ele chamava os seus
apóstolos) que ele devia ir para Jerusalém, onde seria preso pelas
autoridades, e finalmente seria condenado à morte. Pedro
chama Jesus de lado, como quem quer o corrigir, e censura-lhe tais
palavras. A resposta de Jesus e incisiva e sem dó: “Afasta-te de
mim satanás! Pois não tens em mente coisas de Deus e sim as dos
homens” (Mc 8, 33). Interessante notar que esta cena ocorre um
pouco abaixo daquela em que o mesmo Pedro professa sua fé: “Tu és
o Cristo” (Vs. 29). Ora, o episódio evidencia que Pedro ainda não
havia compreendido o verdadeiro significado do reinado de Jesus
Cristo neste mundo. Ele era rei, mas que rei que é condenado e morto
por seus próprios súditos? A imagem que Pedro tinha de Jesus era
aquela que ia ser confirmada na entrada em Jerusalém: um messias
triunfante, aclamado pelo povo, libertador das injustiças que Israel
estava sofrendo por estar sob a dominação de uma outra nação.
Os evangelhos nos mostram muitas
outras situações em que Pedro aparece aparentemente como um dos
últimos indicados a ser o líder do grupo dos seguidores de Cristo.
E após a morte de Jesus o que fez Pedro? Voltou a pescar! Voltou a
vida que tinha antes de conhecer o Senhor. Não bastaram os milagres,
as curas, as palavras, para que Pedro tivesse uma transformação
efetiva em sua vida. E Jesus bem sabia disso, e sabia ainda do quanto
aqueles que escolheu eram “cabeça dura” demais. Mas ao mesmo
tempo não desistiu deles, sabia que tinham potencial para se
tornarem um “outro cristo”, e por esse motivo alertou-os – já
ressuscitado – como deviam proceder para que se cumprisse
planamente a sua missão. Nos versículos 4, 5 e 8 do primeiro
capítulo dos Atos do Apóstolos podemos ler:
“Ao tomar a refeição com eles
deu-lhes esta ordem: ‘não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai
o cumprimento da promessa do Pai a qual me ouvistes falar, quando eu
disse: ‘João batizou com água; vós porém dentro de poucos dias
sereis batizados com o Espírito Santo. [...] Mas recebereis o poder
do espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas
testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e ate os
confins da terra.”
Pedro e os demais cumpriram a ordem
do Senhor, permaneceram em Jerusalém unidos, esperando a promessa. E
chegando o dia de pentecostes “os discípulos estavam todos
reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído como um
vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. [...]
Todos ficaram cheios do Espírito Santo [...]” (At 2 1-4). Este foi
o marco transformador na vida de Pedro, bem como nos outros
apóstolos. Após este momento – em que eles ficaram cheios do
Espírito – imediatamente saíram do lugar onde estavam
trancados por medo daqueles que mataram a Jesus, e totalmente
destemido Pedro ficou de pé e proclamou a aquela que podemos chamar
de a primeira pregação da igreja Cristã. Pedro foi corajoso, e era
pois, o mesmo que negou Jesus três vezes diante de uma simples
criada, que agora teve a coragem de professar sua fé diante de três
mil pessoas.
E mais do que isso o proclamou também
diante dos mesmos homens que tramaram a morte de Jesus. Ao ser levado
para ser interrogado pelas autoridades por ter curado em nome de
Jesus, Pedro disse: “Ficai sabendo vós e todo o povo de Israel: se
este homem está curado diante de vós, é por meio do nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos
mortos” (At 4, 10). Que coragem, e que sábias palavras! Quem disse
estas palavras não foi um teólogo, nem mesmo um eloqüente
pregador, e sim um pescador, mas agora cheio do Espírito Santo!
Esta mesma experiência que Pedro
teve também nós podemos ter: “Pois a promessa é para vós e para
vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles
que o Senhor Deus chamar” (At 2, 39). Nós estamos longe,
temporalmente, do acontecimento de pentecostes. É, portanto também
para nós esta promessa, e Deus já esta cumprindo-a. o Espírito
Santo tem sido derramados sobre inúmeras pessoas que confiantemente
se entregam ao Senhor e pedem esta graça. Pedir para ficar cheio do
Espírito é uma ordem do próprio Jesus quando disse “pedi e
recebereis”. Não existe desculpa para não o fazermos. Peçamos
insistentemente ao Senhor a graça de termos a mesma coragem que
Pedro, e receberemos a força do Espírito Santo e seremos suas
testemunhas onde quer que estejamos.
***
Depois de refletir sobre esta
história me pego pensando; o que fez este homem mudar assim? Poderia
resumir tudo isto em uma única palavra: experiência. O que fez
Pedro mudar, de um homem inseguro, inquieto, medroso, cético, em um
homem corajoso, destemido, ansioso para que todos conhecessem o homem
que possibilitou que ele mudasse, foi a experiência com o Espírito
Santo. Foi o evento de Pentecostes. Não há outra maneira de
explicar esta reviravolta e esta conversão sem colocar a frente de
tudo isto aquela manhã em que Pedro foi batizado no Espírito Santo
juntamente com os outros discípulos. O nome de Jesus não seria tão
conhecido como hoje é sem que houvesse Pentecostes. O derramamento
do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi como que Deus ligando o
interruptor da igreja para que a energia pudesse correr no meio dela
e a assim a força do Espírito Santo impulsionar aqueles homens e
mulheres a anunciar por toda a parte o nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Desde o evento de pentecostes, o
Espírito Santo vem continuamente sustentando a igreja nos trilhos do
mandato evangélico de Cristo. Mesmo se por algum tempo a igreja não
deu tanto espaço para a manifestação do Espírito, ele sempre
esteve junto dela, guiando, agindo nos sacramentos, manifestando em
tantos santos e santos que se deixavam guiar pela sua unção. Mas
nos últimos anos estamos presenciando um novo reavivar do Espírito.
Podemos dizer que aprouve Deus, nestes tempos manifestar seu Espírito
para renovar a igreja e para chamar o seu povo para que redescubra a
graça de viver a graça do cristianismo de forma plena e não
simplesmente como um evento social ou cultural.
A graça que estamos vivenciando é a
graça que fez com que Pedro se tornasse chefe e cabeça da igreja de
Cristo. É a graça que faz com que nossa vida ganhe um sentido
verdadeiro, ganhe dinamismo, se encha de alegria. Deus está reunindo
um povo para que tenha um modo cristão de viver, com um modo de vida
inspirado na vida de Cristo e baseado no amor sem restrições, no
desapego, na alegria, no temor de Deus, na comunicação desta graça
aos que ainda não conhecem esse Deus. O cristão é chamado a ser um
outro Cristo, assim como Pedro foi pois ele também doou sua vida em
favor do evangelho em favor dos outros. Assim como Cristo, também
ele foi morto pela causa evangélica. E nós? Seremos capazes de
mergulhar nesta vida nova mesmo sabendo que apesar das alegrias nosso
fim pode ser o mesmo de Cristo devido ao ódio que o mundo tem dele?
É uma aventura se lançar nesta direção, mas é uma aventura
emocionante, e que reserva muito mais alegrias do que tristezas para
aqueles que abrem mão da sua vida em favor da vida nova em Cristo.
©Alberto
Fonseca. Graduando em História/UFRRJ. Junho-2012.
albertofonseca@ufrrj.br